III Domingo do Tempo Comum

III Domingo do Tempo Comum

Qui., 20 Jan. 22 Lectio Divina - Ano C

No 3º Domingo do Tempo Comum, a Igreja Mãe quer mostrar-nos a preciosidade da Palavra proclamada de Deus, que nos desafia pessoalmente e transforma as nossas vidas.

A primeira leitura do livro de Neemias mostra a relação vital entre a palavra de Deus contida na Bíblia e a comunidade que a escuta. O povo de Deus regressou do exílio à sua terra e procurou a sua mais profunda identidade e unidade na Palavra de Deus. Hoje, como no passado, a Igreja encontra a sua identidade na Palavra de Deus. É por isso que está sempre a ouvir religiosamente a Palavra de Deus e é por ela reunida.

De fato, a Igreja não quer proclamar uma ideologia humana abstrata, mas deseja comunicar a Palavra que foi feita carne em Cristo, o Filho de Deus. Ele é o Chefe da Igreja, tal como nos foi apresentado na segunda leitura, retirada da carta de Paulo aos Coríntios; ele é o Mestre que unifica a multiplicidade e diversidade dos membros num só corpo. Ao unir mentes e corações com a sua palavra viva, ele cria a unidade da fé. 

A liturgia apresenta-nos os dois pequenos textos "introdutórios" de Lucas: a todo o Evangelho (1,1-4) e ao ministério na Galileia (4,14-21); neles o evangelista revela-nos que só Jesus pode atualizar a Palavra de Deus e cumpri-la: "Hoje esta Escritura foi cumprida, que ouvistes com os vossos próprios ouvidos". (Lc 4,21).

 1, 1- 4: O evangelista na abertura do seu Evangelho dirige-se a um personagem ilustre que leva o nome simbólico: "aquele que ama a Deus" e nele cada um de nós pode sentir-se incluído... Lucas motiva o trabalho empreendido explicando que propôs confirmar ao seu interlocutor a solidez do conteúdo em que foi instruído. Ele também faz questão de dizer que queria fazer uma busca cuidadosa entre pessoas autorizadas e empenhadas: são elas as testemunhas oculares que também estão passando as suas vidas para a proclamação do Evangelho. O compromisso declarado do evangelista é, portanto, o de se apoiar na tradição das origens, que foi cuidadosamente examinada e verificada. Só depois desta diligente investigação é que ele começa a escrever.

Nota-se que, segundo exegetas, a sua obra é também excelente do ponto de vista literário e histórico, segundo o estilo do seu tempo, porque Lucas é sem dúvida uma pessoa culta que domina o grego helenístico sem dificuldade e quer dar um testemunho historicamente fundamentado e uma exposição ordenada. Este estilo e intenção podem também ser encontrados nos Atos dos Apóstolos.

cap.4, 14 - 15: Depois de recontar os acontecimentos da sua infância, o seu batismo e as tentações no deserto, Lucas apresenta Jesus no início do seu ministério na Galileia, a sua pátria; não deixa de sublinhar que está sempre acompanhado pelo poder do Espírito Santo, que ilumina a sua palavra e a sua obra. Apesar de não relatar quaisquer milagres ou ensinamentos específicos, o evangelista fala da fama que acompanha o jovem Rabino em toda a região, deixando claro que ele já se mostra próximo do povo e sensível às necessidades dos doentes e necessitados.

Jesus entra efetivamente no coração religioso do povo porque ensina nas sinagogas fazendo-se compreender por todos. Como observa o evangelista, todos o elogiam com convicção porque a sua forma de ensinar é atraente e autorizada.

v.16: O itinerário de Jesus como pregador itinerante tem uma etapa significativa na cidade onde cresceu na sua infância, adolescência e juventude precoce; uma continuidade expressa pela palavra "segundo o seu costume". Esta expressão permite-nos entrar no mistério da rotina diária da sua vida, marcada por uma referência constante ao Pai, especialmente no ritmo semanal dos sábados. Como qualquer judeu adulto, Jesus tem o direito de ler a Palavra de Deus e de a interpretar; ele fá-lo de pé, atitude do Ressuscitado.

vv.17 - 19: A Palavra profética que, segundo o evangelista, Jesus não procura, mas apresenta-se aos seus olhos na abertura do pergaminho, é a de Isaías; uma pequena passagem que reúne vv. 1-2 do capítulo 61 e v. 6 do capítulo 58. Estamos na terceira parte do livro, na qual a missão do profeta é explicitada com uma grande abertura à esperança. A leitura deste texto no início do tempo comum move o coração: este é o Ano da Graça que o Senhor proclama também para nós, a sua Igreja, hoje.

O Espírito do Senhor que ungiu Jesus continua a implementar a sua mensagem de proximidade, alegria e confiança. Também hoje, os pobres precisam de ouvir as boas notícias de salvação. Há ainda muitos, demasiados prisioneiros à espera de libertação: da prisão propriamente dita e das outras limitações que provêm das estruturas do pecado; muitas vezes prisões de falsas ideologias, hábitos errados, medos, egoísmos, vícios... A cegueira ainda aflige demasiadas pessoas, especialmente a que impede a visão do céu... A opressão tem muitas faces e pesa no coração e na mente, impedindo as pessoas de voar em liberdade com as asas da fé e do amor... Temos uma imensa necessidade de sermos libertados, e é isto que Jesus promete e nos dá com a alegre proclamação do Ano da Libertação!

vv.20 - 21: Os gestos de Jesus no versículo 20 são vistos por Lucas "em câmara lenta"; é-nos dado este momento de espera silenciosa, de expectativa por parte de todos. Jesus, fechando o volume do profeta, parece querer dizer que o que é antigo, embora mantendo todo o seu valor, é ultrapassado pelo "hoje" que no presente momento torna presente e cumprida essa palavra de esperança. Jesus apresenta-se como o realizador da promessa de Deus; vê-lo e estar com ele significa encontrar todas as respostas para as expectativas do coração, da mente, da vida.