O Salmo 5 apresenta-nos uma pessoa inocente, injustamente acusada ou perseguida que, no templo, recorre ao tribunal de Deus, apresenta-lhe o seu caso e aguarda o julgamento. O gênero do salmo apresenta o clássico triângulo entre a pessoa que reza, os inimigos e Deus.
Deus. O Senhor é chamado por dois títulos: "Meu Deus, meu Rei" (v. 3). A primeira expressa uma relação pessoal e implica uma profissão de fé, a segunda inclui o poder judicial, porque na antiga Israel o poder executivo e judicial não estavam separados, mas concentrados na pessoa do rei.
O orador reconhece que Deus não pode permanecer neutro e indiferente perante o mal: de fato, Deus e a injustiça são radicalmente irreconciliáveis. O termo "sedàqà" = justiça (v 9), é temperado com "hesed" = misericórdia (v 8), um termo intraduzível, que expressa uma gama de sentimentos como bondade, fidelidade, ternura de Deus.
Inimigos. São qualificados por seis palavras de peso: "maus", "tolos" (arrogantes), "malfeitores", "mentirosos", "sedentos de sangue", "enganadores" (traiçoeiros). Os versículos 10 e 11 caracterizam-nos na sua forma perversa de agir, como criminosos e rebeldes contra Deus e o próximo.
Quem são estes malvados? Serão eles juízes corruptos de tribunais profanos? Poder-se-ia supor que sim, uma vez que os inocentes, cujos direitos foram violados, recorrem ao tribunal de Deus, o único em quem podem confiar.
O homem que reza. Apresenta-se num tom humilde, sem qualquer fisionomia particular. Não traz nenhum mérito pessoal, não descreve nenhum sofrimento e não protesta contra a sua inocência. Não sabemos quem ele é, mas podemos ver como ele age. Entra no templo (8a), pede uma audiência (4a), declara o seu caso (4b), invoca (3) e espera (4b); elogia o juiz e apela ao seu sentido de justiça. Elogia o juiz e apela ao seu sentido de justiça. A razão pela qual apela à punição dos culpados é que eles são violentos contra os homens e rebeldes contra Deus. A inocência do salmista está implícita, mas é a bondade ou fidelidade de Deus que o impele a entrar no templo. Ele só se sente seguro nas mãos de Deus.
Transposição cristã.
O padrão do salmo do justo perseguido, que se refugia em Deus juiz, é iluminado pela declaração sobre Jesus em 1Pt 2,23: "Ele pôs a sua causa nas mãos daquele que julga com razão". Seguindo o exemplo de Cristo, o Servo sofredor, o cristão perseguido, caluniado, injustamente condenado, pode fazer suas as palavras deste salmo, ao mesmo tempo que pede a conversão e não o castigo dos ímpios.
Perguntas para reflexão pessoal:
O que fazer para que as pessoas possam encontrar nos cristãos um coração aberto à compaixão e à aceitação, especialmente em tempos de tristeza?
Como podemos viver as provações inevitáveis da vida cristã com confiança, com um espírito de fé?
Experimento a oração como confiança incondicional em Deus?