As antífonas Ó

As antífonas Ó

Sex., 17 Dez. 21 Formação litúrgica

Seguindo a sugestão do n.13 do Sacrosanctum Concilium, segundo a qual os exercícios piedosos deveriam ser modelados sobre a liturgia, seria apropriado que a Novena de Natal fosse estabelecida como uma "semana" com início a 17 de Dezembro, com uma celebração de vigília no dia 24, em preparação para a Missa da Meia-Noite.

Os dias de 17 a 23 de dezembro têm um carácter especial; são propostos textos litúrgicos invariáveis e, num certo sentido, estes dias são "separados", retirados da lógica da passagem cronológica do tempo (kronos) para introduzir os fiéis na dimensão "favorável" do tempo (kairos) da Encarnação salvífica do Verbo.

É bom que a "semana de Natal" seja realizada como uma celebração autônoma com o povo.

A tradição de fato dá-nos uma estrutura de celebração fortemente caracterizada, cujos melhores elementos devem ser preservados e valorizados. A própria melodia contribui para estabelecer na assembleia uma atmosfera típica que pode ser qualificada como "espiritualidade natalícia".

O "septenário" é muito antigo, mesmo que a sua origem não seja exatamente clara. Amalarius de Metz (775-850), um monge teólogo e liturgo do século IX, já os conhecia e atribuiu-os a um cantor anônimo que viveu no século VIII ou antes (na medida em que datam do século II). Aparecem nos antifonários romanos e em muitos livros litúrgicos da Idade Média. Estavam certamente já em uso na época do Papa Gregório Magno, cerca de 600, sendo mencionados no Liber responsalis sive antiphonarius como antífonas do texto evangélico do Magnificat durante os sete dias que precederam a celebração do Natal.

As antífonas, em latim, são inspiradas por textos do Antigo Testamento que anunciam o Messias e são comumente chamadas " antífonas Ó" do Advento, porque todas elas começam com a exclamação "Ó" que indica a maravilha e o espanto comovente da Igreja na sua antiga e incansável contemplação do Mistério. Todas elas são dirigidas a Jesus Cristo; invocações messiânicas àquele prometido no Antigo Testamento para vir e salvar o seu povo.

Cada uma das antífonas Ó centra-se num título messiânico diferente e particular, e juntos podem ser considerados como um verdadeiro compêndio de cristologia, pois apresentam uma imagem da identidade de Cristo, fruto da teologia e da grande investigação cristológica dos pais da Igreja dos primeiros séculos. Eles são um belo exemplo da verdade do princípio "lex orandi, lex credendi": a Igreja celebra aquilo em que acredita.

Uma singularidade do conjunto de antífonas Ó é a do acróstico, em que a leitura da primeira letra da invocação que se segue ao "Ó" inicial torna possível encontrar uma frase completa; no nosso caso, o acróstico é apresentado "de cabeça para baixo", ou seja, é lido a partir da letra inicial da última antífona.

Aqui está a sequência destas palavras em latim e em Português:

Sapientia (Sabedoria)

Adonai (Senhor)

Radix (Raiz)

Clavis (Chave)

Oriens (Astro)

Rex (Rei)

Emmanuel (Emmanuel)

 Lendo de baixo, aparece a expressão latina "ERO CRAS", que se traduz como "Amanhã virei": a resposta do Messias à invocação sincera de cada antífona.

A primeira observação importante a fazer é que à medida que a invocação da vinda do Senhor cresce, a certeza da Sua resposta toma forma: "Eu irei! Ele já está respondendo com a promessa que encerra as Escrituras: "Sim, vou em breve" (Apocalipse 22:20).

Não é certo se a composição do acróstico era a intenção do autor, mas este procedimento leva a duas importantes conclusões:

- A ordem original das antífonas era provavelmente a mesma que no breviário romano de hoje;

- O número original de antífonas era sete.

Quando e como celebrá-los?

O tempo escolhido para que esta sublime invocação ao Filho de Deus fosse ouvida era normalmente a hora das Vésperas, porque é na noite do mundo, vergente mundi vespere, que o Messias chegou; foram cantadas no Magnificat para denotar que o esperado Salvador vem de Maria. Contudo, várias igrejas começaram a usar estas antífonas também em Benedictus, em Laudes; esta prática é compreensível devido à ligação entre as referências bíblicas das antífonas e o Canto de Zacarias. Nos mosteiros e catedrais as antífonas Ó foram celebradas com grande solenidade; foram entoadas pelo superior da comunidade e acompanhadas durante todo o canto pelo tilintar do sino principal do mosteiro ou catedral.

Na liturgia renovada após o Concílio Vaticano II, as antífonas Ó são lidas (ou cantadas) como um "versículo do Evangelho" na Celebração Eucarística e nas Vésperas antes e depois do Cântico de Maria (Magnificat).

Estrutura das antífonas Ó

As antífonas Ó têm uma estrutura muito semelhante à da Oração de coleta, na qual três elementos podem normalmente ser identificados:

- Uma primeira invocação dirigida a Deus

- A menção de algumas das Suas características e da Sua forma de agir em nome dos homens;

- Um pedido para que Deus renove agora a sua ação e para que o fruto seja apreciado.

Da mesma forma, em cada antífona Ó:

- a abertura é uma invocação dirigida ao Messias através de um título do Antigo Testamento;

- este título é expandido e especificado por uma referência adicional a algum atributo do Messias ou a algum acontecimento crucial na história da salvação;

- O clímax é alcançado com a invocação "Vem!", mais adiante especificada descrevendo a razão pela qual a Sua vinda é invocada (vem... "para nos salvar, para nos ensinar, para nos libertar...").

Outra característica de cada antífona é que ela tem sempre uma referência ao passado, presente e futuro.

 O oitavo dia: Natal e Páscoa

É de notar que as antífonas Ó estão organizadas de tal forma que a véspera de Natal cai no oitavo dia, o primeiro dia da nova criação. Existem provavelmente sete antífonas por esta razão. Neste ponto vemos que existe um paralelo entre os dias das antífonas Ó que precedem o Natal e a Semana Santa: ambas são celebrações que se estendem por sete dias, têm os seus próprios textos litúrgicos e apresentam um caminho progressivo que cresce até ao momento da celebração da Solenidade. Além disso, a celebração recorda eventos passados que iluminam o presente e projetam o celebrante para eventos futuros.

Tanto a celebração do Natal como a Páscoa marcam, num certo sentido, o início da nova criação. As semanas que antecedem a sua celebração são um momento especial para despertar e experimentar uma nova expectativa e consciência, vivendo o tempo presente como um momento de passagem para o cumprimento final.